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Um grupo de psicodrama psicanalítico de adolescentes

Foto do escritor: Ângela BouçaÂngela Bouça


Vinham às quartas-feiras, quando não havia aulas de secundário de tarde. Umas vezes chegavam a transbordar novidades, que queriam contar, outras vezes sem vontade de falar, calados, como se lhes pesasse o mundo. Traziam a sua vida familiar, ora com famílias super-protetoras, ora com famílias onde eram pouco cuidados, entregues a si próprios. Traziam dificuldades nas relações com outros, na escola, com colegas, com possíveis ou reais namorados, com pais, juntos ou separados, com família alargada, onde a intrusão impedia uma relação mais fácil, muitos com dificuldades económicas ou dificuldades em encontrar uma via profissional, escolhida por si. Riam ou choravam, conforme o seu humor se ia transformando no decorrer duma sessão.

Sabiam que aquele espaço era um espaço livre, onde se iam sentindo compreendidos, mesmo que nem sempre fosse fácil o que experimentavam. Mas gostavam de vir, de poder desvendar aspetos que não tinham coragem para mostrar fora. Colocavam em palco os seus sonhos, que iam começando a surgir, quando as angústias davam espaço a outros voos.

Partilhávamos esse espaço sabendo que lá estaríamos todas as quartas e que iriamos explorar o que ainda não sabíamos que iria acontecer, mas com a certeza de procurar a verdade emocional.

Um dia, um final de dia, anos depois, encontrei uma dessas adolescentes, já jovem, grávida. Quis-me apresentar o vindouro. Disse que era um rapaz e que lhe iam chamar o nome do pai, falecido quando tinha oito anos. Disse que o psicodrama psicanalítico, tal como o tínhamos vivido, tinha sido muito importante para si e que se lembrava muitas vezes de algumas sessões. Tinha-lhe sido possível pensar o seu luto e construir a sua própria vida. Como aconteceu com muitos adolescentes.

O psicodrama psicanalítico constitui um método terapêutico privilegiado na adolescência. Permite aceder a aspetos inconscientes, que permaneciam fora da sua consciência. Permite que o corpo se expresse livremente, o que é tão importante nesta fase de vida em que muitas vezes surge a inibição, as dificuldades com a imagem corporal. O grupo de psicodrama psicanalítico tem uma função de suporte e apoio, semelhante à dos grupos de pares, fundamentais para os adolescentes, na sua função de ver e ser visto, de se espelharem no outro, mas com a presença e o garante da equipa terapêutica, que assegura um quadro suficientemente estruturado e seguro.

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© 2023 Sociedade Portuguesa de Psicodrama Psicanalítico de Grupo

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